Então me abraça forte… – e o poder da música

Cagab sempre chega feliz, agitado, pulando, agarrando os colegas, vai ao banheiro, bebe água, não pára um minuto.

Nesta semana, na segunda, chegou contando que os pais haviam brigado. A mãe brigou com o pai porque ele ficou muito no bar. Contou que depois se acertaram.

Na quinta, chega quieto. Pendura a mochila e vira uma estátua no meio da sala, olhando o além, com os olhos cheios de lágrimas.

Chego, converso, brinco, chamo para o lanche. Ele vai… aquele olhar inconformado continua…

Quando chega no refeitório, não quer entrar na fila, senta no banco do lado. E ali, quietinho, deixa as lágrimas rolarem. E chora, as lágrimas escorrem, mas é um choro quieto, contido.

Sentei ao lado dele, perguntei o que estava acontecendo. Ele só dizia que queria a mãe dele. Expliquei tudo o que se tem pra explicar sobre as mães e a escola. E ele só dizia que queria a mãe dele, como um mantra. Era um choro tão triste, tão sofrido, que eu tive que me segurar pra não chorar junto. Será que devia ter chorado? Não sei. Continuei sentada ao lado dele, perguntei se podia abraçá-lo, depois se podia pegá-lo no colo. E ficamos ali, abraçados um tempinho. Ele foi parando de chorar. Mas continuava olhando para o nada.

Quando voltamos pra sala, peguei o rádio e fui pra roda. Falei para a turma que ele estava triste e que iríamos ouvir umas músicas para alegrá-lo. E fomos ouvindo as nossas preferidas: A casa, O pato, Sítio do Picapau Amarelo. Depois ouvimos umas novas, como Bicharia dos Saltimbancos, A Cuca te pega. A tristeza foi passando. Aos poucos ele foi se soltando. Quando percebi ele estava no meio da roda rodopiando, como sempre faz. Terminamos nossa sessão musical e ele estava feliz de novo.

E fiquei sem saber o que havia acontecido.

 

Uma resposta

  1. Lili, foi impossível ler seu relato e não cair em lágrimas (será que to convivendo demais com nossa amiga Mafê?…kkk). Mas seu relato foi realmente emocionante e para além das teorias e do certo ou errado que a escola tenta nos impor, o poder do afeto e da música ultrapassam qualquer entendimento. Um colinho que nos aquece e nos conforta, uma música que nos faz imaginar, pular, sorrir. Obrigado por compartilhar momentos tão preciosos como este. Bjocas. Si.

  2. …Então me abraça forte
    E diz mais uma vez
    Que já estamos
    Distantes de tudo
    Temos nosso próprio tempo
    Temos nosso próprio tempo
    Temos nosso próprio tempo…

    Não tenho medo do escuro
    Mas deixe as luzes
    Acesas agora
    O que foi escondido
    É o que se escondeu
    E o que foi prometido
    Ninguém prometeu
    Nem foi tempo perdido…

    A escolha do “Legião” foi perfeita! Só descordo que o poder foi da música!!
    Eu diria que foi do abraço que convida a “entrar” no colo, na roda… daí na música… Que sendo arte, sempre ajuda a gente a se entender melhor, querida! Foi o poder da prô sabida que fez a posta certa na hora certa!
    Beijos e abraço apertado!

    • Oi Querida… E essa música, que me traz uma marca muito triste, veio na hora em que estava escrevendo. Não consegui não citá-la, mesmo de mansinho… Tanta coisa que a gente vive na escola, né?

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